segunda-feira, 15 de setembro de 2008

PALAZZO BARBERINI





Os barberini - cujo símbolo são tres abelhas, são uma das famílias mais tradicionais de Roma e da Itália. Papas, cardeais, príncipes e príncesas ... O palácio da família, hoje Galleria Nazionale d'Arte Antica di Palazzo Barberini, fica perto da Pizza del Tritone, em Roma. Com obras de Rafaello, Tintoreto, Bronzino, El Gregro e Caravaggio. Deste, duas obras primas: Judite e Oloferne e Narciso.


GIUDITTA E OLOFERNE


Michelangelo Merisi (1571-1610) – Caravaggio – foi um dos personagens mais extraordinários da história da arte, um profundo inovador da pintura italiana entre o "Cinquecento e il Seicento". Com ele aparece a dualidade claro/escuro. A luz, que em raios oblíquos projeta sombras sobre as figuras que emergem da escuridão com dramático relevo e iluminando um ângulo mais escondido, um rosto, uma ruga, a dobra de uma veste. Como a luz divina que pode iluminar a vida dos deserdados.

Talvez sua própria e desventurada, irrequieta, desesperada, violenta e transgressora vida – chegou ao assassinato – o conduziu à representação de tantos motivos sagros retratando os personagens como pobres homens, vestidos miseravelmente, com unhas e pés sujos. Porque Caravaggio foi o primeiro a representar imagens de santos como homens do povo. Suas Madonas não estão cercadas de nobres patrícios e sim de populares. Sua representação da Virgem morta – hoje no Louvre – foi recusada pelo padres que a encomendaram porque a Virgem, de pés descalços em primeiro plano, era uma pobre mulher do povo e – horror! – tinha os pés sujos.

Na Galleria Nazionale – Palácio Barberini – está uma das mais célebres pinturas de Caravaggio "Giuditta e Oloferne". O pintor se inspirou fielmente na história bíblica da jovem viúva – Giuditta - que salvou a sua cidade e o povo hebreu do assédio dos assírios. Prometendo-se falsamente, introduziu-se na tenda de Oloferne para matá-lo. Esta cena, que foi muitas vezes reproduzida pelos pintores, sempre foi vista como a vitória do Bem/da Virtude sobre o Mal/o Vício.

Caravaggio vê mais do que isso e pinta uma cena terrível de passagem da vida para a morte. Judite, aferrada aos cabelos de Oloforne, acaba de dar o talho de espada no pescoço do general. Que não está mais vivo, como indicam os olhos revirados, mas não está ainda morto, visto que a sua boca grita, seu corpo se contrai e sua mão prende-se ao lençol. Judite acaba de sair do leito, pintada no original com os seios nus, sem o corpinho transparente. A ferocidade da cena é imensa no contraste entre a elegante e distante beleza da heroína e o grito desumano da vítima com o sangue que começa a jorrar.

Caravaggio confere à luz o papel fundamental do quadro. Ela é símbolo da graça divina mas também serve para ressaltar os gestos e os olhares. Como faria um moderno diretor de teatro ou cinema. Símbolo e realidade se encontram e hei-lhos iluminados: o macabro detalhe de Oloferne, a contração do rosto de Giuditta e a expressão (espetacular!!!) estúpida da velha acompanhante que se limita a esperar o momento de recolher a cabeça do assírio.

Datada entre 1597 e 1600, a tela foi executada para a família genovesa dos Costa. Foi considerada perdida até 1950 quando encontrada numa coleção particular e adquirida pelo Estado em 1971 do seu último proprietário particular.
Vale uma viagem à Roma. Isso sem falar dos outros Caravaggios da cidade: Museu Borghesi, Chiesa dei Francesi, Museo Corsini, Chiesa Santa Maria del Popolo, Museo Vaticano ...